A atriz Bia Borinn está de volta aos sets com dois novos filmes que prometem encantar o público mundial. Em “Música”, ao lado de Camila Mendes e Rudy Mancuso, e em “Nas Alturas”, com Gary Smith, Bia mostra todo o seu talento e versatilidade como atriz.
Contra a hipersexualização, Bia adotou uma nova estratégia: raspou parte do cabelo em um “undercut”. Interpretando personagens fortes e marcantes, Bia Borinn mostra todo o seu talento e versatilidade nas telas.
Formada em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo, Bia Borinn tem um vasto currículo que inclui atuações em longas, séries, comerciais e trabalha também como apresentadora. Além disso, já estagiou com Alan Ayckbourn e teve aulas com Harold Guskin.
Com dois filmes trazendo a cultura brasileira, Bia afirma que é o momento do Brasil lá fora. “Ter essa representatividade, mostrando como somos um povo diverso, com todas as cores, para o mundo inteiro, é muito bom”.
Vivendo nos Estados Unidos há 10 anos, Bia Borinn trouxe nuances da cultura brasileira para o streaming mundial. Longe das telinhas brasileiras desde 2019, a atriz aposta cada vez mais em sua carreira internacional, premiada pela UCLA pelo projeto “Brazilian Play and Learn”.
Em “Música”, Bia Borinn interpreta uma das amigas da mãe de Rudy, em uma comédia romântica que traz o gingado brasileiro para o salão de beleza. Já em “Nas Alturas”, Bia vive a protagonista Rafaela, uma paraquedista brasileira que não fala inglês e treina o protagonista interpretado por Gary Smith.
Veja o nosso bate papo com a Bia:
1- Qual foi o maior desafio que você enfrentou ao interpretar uma personagem tão intimamente relacionada à sua própria experiência, como uma mãe de uma adolescente brasileira em “Música”, enquanto na vida real você é mãe de duas crianças americanas? Além disso, de que maneira essa conexão pessoal influenciou sua abordagem na construção da personagem e na execução da atuação?
Bia Borinn – Fazer uma personagem próxima é mais difícil do que construir, pois pode cair em um clichê. Neste caso, especificamente, minha cena era muito rápida, então o desafio foi mais técnico do que a personagem em si. Ela era mais um coro com a Josana e a Cris (outras atrizes que estiveram na cena).
Falar aquele diálogo no ritmo marcado pelo maracatu e no plano sequência foi desafiador, e foi muito legal fazer parte deste projeto. Eu sempre destaquei o Rudi por ser um YouTuber com descendência brasileira, e é importante e interessante saber outra língua e ter essa identidade fluida de culturas. Como você pode fazer algo muito bacana como Youtuber, também tem o Brazilian Play and Learn, pois eu também invisto na língua brasileira aqui nos Estados Unidos.
2- Explique mais sobre a estratégia que você adotou para escapar do estereótipo da brasileira hipersexualizada no exterior ao interpretar Rafaela em “Nas Alturas”. Como essa abordagem contribuiu para a sua personagem?
Bia Borinn – Quando peguei o roteiro, fiquei surpresa pela quantidade de brasileiros nesta comunidade de skydivers. Eu pulei de paraquedas no Brasil e não fazia ideia de que os brasileiros são vistos como excelentes em saltos de paraquedas. Inclusive, fui lá na comunidade em Ausorn na Trindade para conhecer o drop zone. As personagens brasileiras no filme, Rafaela (Bia Borin) e Thiago Tambuque, ambos atores brasileiros, têm posições de confiança dentro da comunidade. Por exemplo, o personagem do Thiago é responsável por dobrar os paraquedas, o que é muito importante. A Rafaela é coach do Dany (personagem principal). Já achei isso muito legal por colocar brasileiros em cargos de confiança. No caso da Rafaela, não tinha como não ser essa personagem sensual, liberal e confiante. Como mulher, é muito fácil falar sobre liberação sexual, como se você fosse uma pessoa fácil, até porque há um julgamento de valor. Já a Rafaela tem plena confiança em quem ela é. Ela fica confortável dentro deste ambiente masculino, livre sexualmente. Isso aparece bastante no filme, mas sempre prezei para que a confiança dela aparecesse no filme. Ela pode ser fofa, delicada de vez em quando (risos), mas ela é bem mais forte, a tal força feminina. Ainda assim, eu preferi ressaltar esta potência feminina, essa fluidez de energia, que talvez possa ser considerada até como uma característica masculina, e ela tem isso. Eu treinei muito fisicamente, até brinquei quando me vi na tela: “Olha como eu estou forte… hahahaha”. Trabalhar com salto de paraquedas é algo que requer muita força física.
3- A cena do salão de beleza ao som de maracatu em “Música” oferece uma representação vibrante da cultura brasileira. Como você vê o potencial dessa cena para desafiar estereótipos e promover uma compreensão mais rica da cultura brasileira no cenário internacional?
Bia Borinn – Ele é um multi-instrumentista nordestino, fera e referência na música brasileira. Por ter trabalhado no Stomp e vir do berço cultural nordestino, ele trouxe junto com o Rudi essa riqueza do Brasil. Esses dias, fui a um lugar tomar café da manhã em Culver City e estava com um som ambiente tocando bossa nova… Aí pensei: “Poxa, de novo bossa nova”, aí, de repente, começa a tocar um Chico Buarque, então falei: “Opa!!!” e não era um café de brasileiros. Eu acho isso muito bacana, de sair da bossa nova e samba, porque o Brasil é um país com uma cultura musical riquíssima. Então, fiquei muito feliz em ter feito esta cena como atriz, como brasileira, e sair do óbvio, porque nós já sabemos que qualquer indústria tende a massificar e produzir em escala a cultura brasileira, que praticamente todos acham que sabem o que é, tipo a Carmen Miranda. Eu tenho muita alegria em mostrar o quão grande é o Brasil.
4-Além da atuação, você teve experiências significativas de aprendizado com Alan Ayckbourn e Harold Guskin. De que maneira essas influências moldaram sua abordagem à arte de interpretar e contribuíram para seu desenvolvimento como atriz?
Bia Borinn – Eu preciso dar muito crédito ao meu marido, Eduardo Muniz, por ter me apresentado essas duas pérolas do teatro. Eu vi muitas peças dele, participei de 2 montagens no Brasil, uma das quais o Edu produziu. O Alan é um dos maiores dramaturgos vivos da Inglaterra. Aprendi muito sobre o que é ser um diretor, o quão generoso ele precisa ser, ter uma escuta excelente e confiar nos atores. Eu aprendi demais. Com o Alan, eu entendi realmente o motivo de querer ser atriz. Ele escreve para nós assistirmos as peças dele, pois ele consegue fazer o público refletir. Além disso, ele gosta de trabalhar com teatro de arena, que eu também amo, e entende desta jornada de ser ator de teatro. Eles são diversas fontes inspiradoras. Com o Harold, eu pude vivenciar na prática o quanto a imaginação, respiração, entre várias outras coisas, ajudam no teatro. Ele dizia que tínhamos que ser como crianças brincando, apenas vivendo sem medos, sem regras, reagir e aproveitar o momento. Foi algo muito libertador participar desse processo com ele. E também aquela questão de seguir tranquilo. Hoje vivemos num momento em que tudo precisa ser muito rápido, produzir conteúdo, e o Harold dizia que para obras artísticas precisamos de tempo para criar, deixar a química acontecer.
5-No filme “Nas Alturas”, você interpreta uma paraquedista brasileira treinando o protagonista, com quem compartilha cenas intensas. Como foi o processo de preparação para esse papel e para as “cenas picantes”? Você tem experiência prévia com paraquedismo?
Bia Borinn – Eu saltei em Boituva e foi uma experiência muito louca, cair em queda livre e tudo mais. Eu me senti conectada com a natureza e tenho certeza de que isso contribuiu para minha personagem. Sobre a cena picante, é sempre um momento delicado, mas quando você sente confiança no diretor, parceiro de cena, que era o protagonista, ele sempre me deixou muito confortável no SET, para eu fazer minhas escolhas, dialogar sobre as cenas. Além disso, essas cenas foram bem coreografadas; é uma dança, e existiu muito respeito. Minha experiência com dança contemporânea também ajudou muito, pois todos os movimentos são ensaiados, então foi bem tranquilo. Mas claro que sempre tem aquela coisa de cenas picantes… beijos, mas faz parte do processo.
6-Considerando o atual destaque do Brasil no cenário internacional, com filmes como os seus, como você enxerga a importância da representatividade cultural brasileira e como isso influencia suas escolhas de projetos e abordagens artísticas?
Bia Borinn – No caso das alturas, eu pude conversar bastante com o Gary sobre não querer que a Rafaela fosse mais uma mulher sexy brasileira. Mesmo que ele já tivesse escrito a Rafaela, conseguimos aprofundar isso no filme. A música também é uma visão profunda e heterogênea do que é americano com origem brasileira. Em outros testes que eu faço, consigo ver que existem videogames, por exemplo, que possuem personagens brasileiros, um grande público que consome e precisa ser alcançado. Às vezes, as empresas e as pessoas também subestimam produzir coisas de qualidade, investir em filmes e programas bacanas, pois temos muitas pessoas. Quanto mais brasileiros em grandes posições, melhor, pois são eles que escolhem os projetos e as pessoas, e isso dá oportunidade para mostrar o Brasil real. Por isso, esses projetos são únicos. Eu sinto, com o Brazilian Play and Learn, que precisamos dessa geração de brasileiros que vão crescer nos Estados Unidos e precisam ter essa relação com o país, pois serão os criadores de conteúdo de amanhã, de uma maneira menos estereotipada. Existem crianças de várias regiões do Brasil no nosso Brazilian Play and Learn, e isso é maravilhoso, pois a regionalidade do país é observada dentro do grupo. Sem contar que somos latinos que falamos português. Eu até acredito que, no Brasil (pelo menos na minha época), poderia ser discutido o que é ser latino. Levantar essas questões é fundamental. Se houvesse aulas de espanhol, por exemplo, seria ótimo. Se eu falasse espanhol, por exemplo, eu teria muitas oportunidades como atriz aqui nos Estados Unidos, pois existem muitas pessoas que falam espanhol. Então, como dica, eu sugiro para os atores que pensam em vir para cá: além do inglês, falem espanhol, pois isso deixará o seu trabalho e perfil bem posicionado.
Eu quero fazer mais personagens não óbvias e estereotipadas. Eu procuro projetos que mostram uma abordagem rica no Brasil.
Assista “Música” na Prime Vídeo.
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